Nilson Montoril
Boto não vira gente
Essa conversa de que o boto vira gente, para seduzir mulheres que vivem nas margens de rios e igarapés, surgiu quando algumas jovens solteiras engravidavam e seus familiares cuidavam de proteger sua honra.
Em tempos mais recuados, quando uma mulher solteira engravidava dava um rolo danado. Com medo das ameaças do sujeito que lhe aplicara o “benefício”, não revelava sua identidade. Para todos os efeitos, o “beneficiador” tinha sido o boto vermelho.
Mas não eram apenas as solteiras que ficavam prenhes “misteriosamente”. Algumas mulheres casadas, amigadas ou amancebadas, cujos maridos passavam longo tempo fora de casa, perambulando pela floresta, riscando seringueira ou colhendo produtos extrativos, envolviam-se com outro homem e lançavam a culpa no pobre do boto.
Certamente, devido ao fato do boto ter pênis e ficar irrequieto quando uma mulher menstruada navega em pequena canoa, acompanhando-a o tempo todo, os índios e os caboclos inventaram a lenda de que o pobre mamífero da ordem dos cetáceos se transformava em homem para deflorar as virgens amazônidas que frequentavam festas dançantes de devoção ou de aniversário.
Como o “embarrigamento” de donzelas era relativamente acentuado, muitas famílias se apressavam em dizer que a “barriguda” tinha sido seduzida pelo boto. A lenda corresponde a uma história fantasiosa demais.
Ora, como é que um jovem estranho de roupas brancas, usando chapéu para encobrir o furo (respiradouro) no topo da cabeça e exalando um forte pixé, diferentemente dos caboclos que abusavam do perfume, não despertava curiosidade dos pais das moças e demais marmanjos? E, porque apenas o boto tinha o poder de se transformar em gente? A bota também deveria ter o mesmo poder.
É provável que os homens das próprias famílias mantivessem relações sexuais com filhas, sobrinhas, enteadas, cunhadas, sogras e agregadas, tirando proveito da lenda do boto pra lançar uma cortina de fumaça sobre o “estado interessante” das fêmeas da família.
O boto tem pênis, e a bota possui peitos e vagina. No período de acasalamento, que acontece de outubro e novembro, a bota expele uma secreção que tem o mesmo cheiro do sangue da mulher menstruada, que excita o boto, avisando-o de que está pronta para a reprodução.
A secreção não pode ser entendida como menstruação, haja vista que essa só ocorre nas mulheres e primatas (chimpanzés, gorilas e outras macacas). Na menstruação, o sangue que a mulher e as fêmeas primatas expelem pela vagina decorre da eliminação do endométrio devido à falta de fecundação dos óvulos. Nas fêmeas das demais espécies animais o endométrio é absorvido pelo útero.
Vale esclarecer que a cadela não menstrua, como muita gente pensa. O sangramento que algumas delas liberam provém do rompimento de pequenos vasos devido ao elevado fluxo de sangue no período do cio.
A ignorância dos índios e dos caboclos, em termos de anatomia, fez surgir a lenda. É claro que o homem só reproduz outro ser com mulheres. Pode transar com fêmeas de outras espécies, que nada acontece.
Conta-se que muitos caboclos realizavam tapagem de igarapés usando o “pari”, para capturar peixes, aprisionando botas caso elas estivessem no trecho interditado. Depois da vazante da maré, estando a bota indefesa sobre a lama, o pescador saciava seu apetite sexual. Existem registros de elementos que agiram dessa forma e eles são unânimes em dizer que as contrações dos músculos vaginais da bota deixam o ser humano estafado.
O cansaço não provinha do ato sexual em si, mas do esforço desprendido para se manter sobre a bota. De um modo geral, o caboclo matava a bota temendo que ela estivesse grávida.
Ao nascer, o boto vermelho tem a pele cinza. Seu nome científico é “Inia geoffrensis”. Coube ao francês Jacques Cousteau alterar a designação boto vermelho para boto cor de rosa. A outra espécie é preta, nominada tucuxi, mas parece que não tem o mesmo poder do boto vermelho.
No interior da Amazônia, o filho de mulher que não sabe quem é o pai do bruguelo é tido como “filho de boto”. Com certeza, boto de cinco dedos em cada mão. Como tudo acontece no Brasil, não estranhem se aparecer boto com apenas quatro dedos na mão esquerda.
Pontes ou escambaus ilustrados
Surgido no platô de terra firme onde está edificada a Fortaleza de São José, o povoado de Macapá enfrentou sérias dificuldades para expandir-se. O espaço era reduzido, delimitado pelas atuais Avenidas Maracá e Coaracy Nunes, Rua São José, Elesbão e Rio Amazonas. Quando a maré enchia tudo ficava cheio d’água impedindo o deslocamento das pessoas por terra. A partir de 1758, quando o povoado foi elevado à categoria de vila, o Senado da Câmara precisou mobilizar um bom contingente de trabalhadores para aterrar uma estradinha, cujo inicio era o final da atuar Avenida Cândido Mendes, que em diagonal demandava no sentido da Rua Vereador Binga Uchoa e seguia até alcançar a margem direita do igarapé do Igapó ou Bacaba. Sobre ele foi construída uma ponte de madeira relativamente robusta. Isso se fez necessário porque a vila de Macapá tinha sido delimitada em área de serrado, com elevação comparável ao nível do platô em relação ao Rio Amazonas. Por volta de 1761, quando a maioria dos prédios erigidos em torno do Largo de São Sebastião já estava com suas obras prontas, apenas os soldados do Forte de Faxina e os agricultores que mantiveram suas plantações na antiga área residencial faziam uso da ponte, transitando em cavalos e carros puxados por bois.
O tempo foi passando, mas a ponte permaneceu sendo utilizada, haja vista que os limites da vila não foram ultrapassados. A planta da Vila de Macapá indicava a existência de duas amplas praças, tituladas como Largo de São Sebastião (Praça Veiga Cabral e Largo de São João (Praça Barão do Rio Branco), Ruas e Travessas. Nos dias atuais, o perímetro compreende as Avenidas Professora Cora Rola de Carvalho/FAB e Ruas Cândido Mendes de Almeida e Tiradentes. A criação do Território Federal do Amapá, no dia 13 de setembro de 1943 e sua implantação a 25 de janeiro de 1944, atraíram um considerável número de trabalhadores e a implantação de novas atividades comerciais. Assim, lojas, botecos, biroscas, vendas, portas e outros pontos empresariais com denominações variadas foram surgindo e motivando a ocupação de espaços à direita e esquerda da Avenida Cândido Mendes na direção da Fortaleza de São José. O panorama era bem interessante.
No centro da área foi montada uma longa passarela. Dela partiam estivas ligando-a as casas comerciais. Mesmo havendo um projeto de aterro elaborado pelo Serviço Especial de Saúde Pública (Fundação SESP), a Prefeitura Municipal de Macapá não exigiu a edificação de imóveis com a altura recomendada. No inverno, notadamente por ocasião das marés laçantes (lançante ou lava-praia), os assoalhos das vendas ficavam debaixo d’água Era um transtorno medonho. Depois que a via publica ganhou aterro e os veículos motorizados puderam transitar no sentido dos emergentes bairros da Fortaleza e Trem, o governo mandou instalar uma ponte de madeira sobre o igarapé do Igapó, que a população chamava igarapé da Fortaleza. Mais tarde, a ponte de madeira cedeu espaço para outra construída em concreto, cuja base serviu para a configuração atual do citado bem sobre o canal da Avenida Joaquim Francisco de Mendonça Júnior. A ponte de concreto foi obra da empresa Platon Engenharia e Comércio, concebida, segundo alguns críticos, com as borda mais elevadas que os pontos de encontro dela com a Cândido Mendes. Meu pai, Francisco Torquato de Araújo, amigo dos Platon, aproveitou uma reunião do Rotary Clube de Macapá, no espaço “Hora do Companheirismo” para fazer uma saudável gozação, dizendo,que a ponte da Cândido Mendes era capaz de dizer o nome de quem a construiu. Quando um carro subia na ponte fazia “pla”. Quando descia gerava um “ton”: PLATON.
Os construtores afirmavam que a culpa do desnível foi de quem asfaltou as cabeceiras. Outras pontes de Macapá são como “escambaus ilustrados”, entre elas a “Sérgio Arruda”, que teria custado cinco milhões de reais e outra, sobre o canal do Jandiá, onde carros baixos ficam entalados no ponto mais alto. Agora, a campeã de esquisitice é a ponte sobre o Rio Matapi. Quem fez aquela barbaridade de lançar uma de suas cabeceiras no rumo de um terreno baldio precisa passar por reciclagem profissional.
A estrada de ferro que enferrujou
No inicio das atividades da Indústria e Comércio de Minérios S.A.- ICOMI, em Serra do Navio, o Rio Amapari era a via fluvial usada por quem, partindo de Porto Platon, pretendia alcançar aquela região onde estavam as jazidas de manganês. Antes da chegada da mineradora, faiscadores de ouro e pequenos comerciantes usavam a citada rota. O registro da existência do minério de manganês tinha sido realizado pelo geólogo Josalfredo Borges, em 1934. Em 1946, quando os trabalhos de instalação do governo do Território Federal do Amapá, do qual era o governador, o capitão Janary Gentil Nunes conclamou os cidadãos que atuavam em áreas de exploração mineral, a fornecer ao executivo, amostras de pedras com características de minerais. Um dos freqüentes usuários do rio Amapari, Mário Cruz, dono de uma ubá impulsionada por motor de popa archimedes de 12 HP, que mantinha em sua casa, na cidade de Belém, algumas pedras escuras, as quais ele imaginava serem ferro, transportou-as para Macapá e as apresentou à Divisão de Produção e Pesquisa.
O geólogo alemão Frits Louis Archerman, que prestava serviços ao governo territorial, logo identificou como manganês. Outras amostras confirmaram a existência de ferro, tantalita, estanho e cassiterita. Mediante concessão do governo brasileiro, a ICOMI deu inicio a implantação de uma soberba infra-estrutura operacional para extrair e vender o manganês. A logística da empresa também foi magistral no tratamento de seus funcionários. Tudo que a ICOMI precisou levar para Serra do Navio saia do Porto de Santana, por via rodoviária até Porto Platon. A seqüência da viagem ocorria com o uso de pequenas embarcações, que também traziam amostras de minérios. Posteriormente, a empresa usou uma balsa de ferro e nela transportou as primeiras toneladas de manganês, da vila Santa Terezinha para Porto Platon. Em caçambas, o minério foi transferido para a área onde surgiria o píer e o cais da companhia, em Santana. Isso continuou acontecendo até entrar em operação a Estrada de Ferro do Amapá.
A construção foi iniciada em janeiro de 1954 e inaugurada em 5/1/1957. “Para a construção de suas instalações no Amapá, a ICOMI obteve um crédito no Eximbank, de Washington, de US4 67.500.000,00(sessenta e sete milhões e quinhentos mil dólares), a juros de 4-1/2%(quatro e meio por cento), para financiamento das importações de materiais e pagamento das despesas de construção no Brasil. Deste total,posto à disposição da empresa, foram dispendidos apenas, em números redondos, 55 milhões de dólares”. A extensão da linha principal é de 193,594 km, acrescido de 12,832 km das linhas correspondentes aos pátios de manobras e desvios, perfazendo o total de 206,426 km. Cada quilômetros tem 1.765 dormentes. Em toda a extensão da linha há cerca de 368.679 dormentes. Na fase mais operosa da ICOMI, deslizaram sobre os trilhos da Estrada de Ferro do Amapá nove locomotivas: três GM Diesel Elétricas, modelo 1200 SW , uma modelo 1500 SW e quatro GE C 30-7. A empresa dispunha de 80 vagões para transporte de minérios com capacidade de 70 toneladas cada. Em 1997, a ICOMI encerrou suas atividades com a exploração de manganês. Em 1998, retirou-se do Amapá. Os bens que ela deixou, na forma do contrato de concessão que lhe foi feito pelo Governo Federal, eles passaram a pertencer ao Governo do Estado do Amapá. Foi quando a desdita se abateu sobre a ferrovia.
A gestão estadual não conseguiu manter as composições operando com a mesma competência revelada pela ICOMI. Surgiram três empresas, que também se revelaram tremendos fiascos: MMX(2006), Anglo American (2008) e a Zanim (2013). Esta última ainda foi contemplada da concessão da Estrada de Ferro, mas não deu conta do recado. Segundo registros disponíveis nas redes sociais dão conta de que, no dia 15 de dezembro de 2014, o trem de carga circulou pela última vez, entre Serra do Navio e o Porto de Santana. No ano posterior foi a vez do trem puxando vagões com passageiros. A partir de então, toda a estrutura existente nos 206,426 quilômetros vem sendo saqueada. Em 2017, através de um relatório, a SETRAP afirma, que as áreas de segurança perto dos trilhos estão sendo invadida. As ocorrências foram registradas na Polícia, mas nada de prático poderá acontecer sem a intervenção judicial. Muita coisa já foi surrupiada e levada para fora do Estado.
Festa Civica no dia do Laudo Suiço – 1ª parte
No dia 1º de dezembro de 1949, ocorreram em Macapá as cerimônias alusivas à data de assinatura do Laudo de Berna, assim chamada a decisão arbitral do presidente da Confederação Helvética, tomada há 49 anos, que assegurou ao Brasil os direitos sobre as terras compreendidas entre a margem esquerda do Rio Araguary e a margem direita do rio Oiapoque, que a França teimava em dizer que lhes pertenciam. Às 7h:30min foi rezada missa na Igreja de São José. Às 8 horas, no parque esportivo da praça capitão Augusto Assis de Vasconcelos (Veiga Cabral), houve demonstração de Educação Física, realizada pelos alunos e alunas do Grupo Escolar Barão do Rio Branco, sob a direção do então sargento Irineu da Gama Paes e da professora Wanda de Abreu Lima, instrutores de cultura física de nossos estudantes.
A exibição de ginástica rítmica compreendeu números de sueca e exercícios de bastão, tudo feito com a máxima precisão. Terminada a demonstração de educação física, as pessoas presentes foram convidadas a se dirigirem ao prédio do Grupo Escolar Barão do Rio Branco, onde seria realizada a exposição de prendas e trabalhos manuais dos alunos do citado educandário. Às 9 horas o governador do Território Federal do Amapá, Raul Montero Valdez cortou a fita simbólica que vedava a entrada da sala de aula onde os trabalhos estavam expostos, franqueando a visitação pública.
A diretora do Grupo Escolar, professora Maria Lúcia Brasil e o Dr. Marcilio Felgueiras Vianna, Diretor da Divisão de Educação, foram bastante cumprimentados pela bela iniciativa. As professoras de prendas Clarisse Lobo e Iza Pinto de Almeida receberam calorosas saudações dos convidados e estudantes. Em seguida à visitação aos trabalhos da Exposição de Prendas, o governador convidou a todos para dirigirem-se ao Cine Teatro Territorial onde haveria uma solenidade para premiar os melhores alunos do Grupo Escolar. A cerimônia foi conduzida por uma meda diretora composta pelo governador Raul Montero Valdez; Dr. Jarbas Amorim Cavalcanti, Juiz de Direito da Comarca de Macapá; Dr. Marcílio Felgueiras Vianna, Diretor da Divisão de Educação; professora Maria Lucia Sampaio Brasil,diretora do Grupo Barão do Rio Branco; Sr. Mário Dias Teixeira,chefe do Serviço de Fomento Animal da Divisão de Produção e Pesquisa;Sr. Felipe Gillet,chefe do Serviço de Fomento Vegetal da mesma Divisão de Produção, representando o diretor do órgão e o Sr. José Serra e Silva, Prefeito Municipal de Macapá.
Inicialmente foi realizada a entrega de prêmios aos alunos que lograram maiores médias nos exames finais: Pedro Maurício Naice Córdoba, do Jardim de Infância, com a média 70; Maria Duarte da Costa, da Alfabetização, com média 100; Fernando Dias Maciel, da 1ª série primária, com média 90; Maria de Nazaré Cunha,da 2ª série primária,com a média 75; Raimundo Amanajás de Brito, da 3ª série primária, com a média 85; Maria Stela Barbosa da Silva, da 4ª série primária, com a média 77;Regina Coeli Barriga Brito, da 5ª série, com média 71. Depois passou a ser feita a entrega dos boletins escolares, destacando-se os primeiros lugares obtidos nas diversas séries, com citação de suas professoras: Na época, havia 10 turmas de alfabetização funcionando no Grupo Escolar Barão do Rio Branco.
Os alunos com maior aproveitamento escolar durante o ano letivo de 1949 foram os seguintes: Antônio Almeida dos Anjos, média 76, professora Raimunda da Silva Virgolino; Sara Antônio Tito, média 94, professora Oscarina Santos; Getúlio do Espírito Santo Mota, média 86, professora Margarida Marques da Silva; Lúcia Tavares Souza, média 98, professora Elizetre Aymoré; Domitila Eufrásia dos Santos, média 87, professora Maria Cristina Botelho; Maria José dos Santos, média 87, professora Maria Nazaré Pinheiro; João dos Santos Nascimento, média 98, professora Elza Cunha; Francisco de Lima Soares, média 91, professora Raimunda Mendes Coutinho; Aurelinda Pereira da Costa e Amiraldo Elleres Nunes Filho,média 90, professora Odila Praxedes; Ivone Cruz da Silva, média 91, professora Maria Doroty Souza.( sequência na próxima edição)
Serviço de proteção ao Índio no Amapá – Parte I
Na forma do Decreto 8.072, de 20 de junho de 1910, o Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil, Nilo Peçanha criou o Serviço de Proteção ao Índio e Localização de Trabalhadores Nacionais-SPILTN, integrando o Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Antes desta providencia, a Comissão de Linhas Telegráficas e Estratégias do Mato Grosso ao Amazonas, também denominada Comissão Rondon, instituída em 1907, procedia a demarcação dos principais pontos estratégicos do pais, permitindo a comunicação e vigilância nas regiões de fronteira.
O coordenador da citada comissão, general Cândido Mariano Rondon, dedicou invulgar respeito às tribos indígenas, defendendo o principio de que seus integrantes tinham o direito de conservar sua individualidade, professar suas crenças e viver como aprendera com seus antepassados.
O governo deveria assegurar a proteção deles em seu próprio território, respeitando a organização tribal e proibindo desmembrar sua família sob o pretexto de educar, de converter ou qualquer outro propósito. Além de prestar assistência aos índios, a Comissão Rondon estabeleceu Centros Agrícolas, onde foram alocados trabalhadores egressos de regiões flageladas. Concretizada esta ação, tratar-se-ia da incorporação dos índios no processo produtivo e combater-se-ia o êxodo rural. No bojo do Decreto 6.455, de 19 de abril de 1907, o governo aprovou bases regulamentares para o serviço de povoamento do solo nacional, mediante núcleos coloniais, divididos em pequenas propriedades destinadas a produção de gêneros alimentícios para abastecimento interno.
A criação do Serviço de Proteção ao Índio e Localização de Trabalhadores Nacionais contou com a decisiva participação do general Rondon em sua organização, fato que o credenciou a assumir o cargo de diretor. Em 1918, a tarefa correspondente a Localização de Trabalhadores Nacionais foi desmembrada do SPI e passou a ser órgão autônomo. De 1930 a 1934, o Serviço de Proteção ao Índio ficou vinculado ao Ministério do Trabalho.De 1934 a 1939, fez parte do Ministério da guerra, por meio da inspetoria de Fronteira. Porem, em 1940 voltou ao Ministério da agricultura e depois ao Ministério do Interior, assim permanecendo ate o dia cinco de dezembro de 1967,quando a Lei 5.371 criou a Fundação Nacional do Índio – FUNAI, vinculada ao Ministério da Justiça. Em 1920, foi criada a Colônia Colonizadora do Oiapoque, que, em 1922, iniciou a implantação da Colônia Agrícola de Clevelândia do Norte, onde foram instalados nordestinos vitimas das secas. Uma infeliz medida adotada pelo governo de Arthur Bernardes prejudicou sensivelmente a evolução dos trabalhos de assentamentos. Presos políticos e elementos de alta periculosidade, de vários estados brasileiros foram deportados para Clevelândia.
O contingente deles chegou a alcançar o total de 1.630 elementos. Já havia passado esta fase, quando, em 1929, o general Rondon chegou à localidade de Martinica, no rio Oiapoque, onde residia um creolo natural da possessão francesa de igual designação. Como o nome não lhe agradou, foi alterado para Espírito Santo. Ao iniciar a implantação das atividades do SPI, Cândido Rondon credenciou o cidadão Eurico Fernandes para desenvolvê-las. Jovem, com bom grau de instrução educacional, bem relacionado com os demais comunitários e com os indígenas, Eurico Fernandes ficou vinculado ao SPI ate o ano de 1950.
O primeiro Posto Indígena do SPI foi instalado na encruzilhada do rio Uaçá com o rio Curipy.Para chegar a este local, a comitiva do General Rondon precisou usar uma resistente ubá e um potente motor de popa. Partindo do Espírito Santo, a embarcação tomou o rumo da foz do rio Oiapoque, passando pela Ponta do Mosquito, que separa o rio Uaçá do rio Oiapoque. A viagem apresentou alguns riscos, haja vista, que a entrada no Uaçá só ocorre com maré cheia. Posteriormente, em área do lugar conhecido como Encruzo foi edificado o Posto Indígena de Nacionalização do rio Uaçá. Uma providencia eficaz foi a instalação de duas escolas. Uma erguida na Vila Espírito Santo, no Curupy e outra na Vila Santa Maria dos Galibis. Também ocorreu a contratação de duas professoras.
Agricultura, produção e venda
Ainda em 2011, o empirismo agrícola prevalece na lavoura do Amapá. Nossos agricultores continuam utilizando o machado e o fogo para limpar as áreas desmatadas destinadas as suas roças. Raramente algum produtor agrícola pode fazer uso de arado, trator, grade e adubo em suas plantações. A cultura da mandioca segue despontando como a de maior prática porque farinha todo mundo come, com a tapioca se faz o beiju e o tucupi é muito apreciado. Como os solos do Estado do Amapá são em grande parte laterizados, os agricultores optam por culturas mais resistentes.
A concorrência de gêneros produzidos em larga escala, com boa colocação no mercado dificulta a venda de seus produtos. Em 1751, quando os colonos açorianos chegaram a Macapá, plantando de imediato suas roças, as chuvas foram implacáveis com eles. Os açorianos voltaram a plantar arroz, milho, feijão, urucum, mandioca e hortaliças a partir de junho de 1752. Em Mazagão, a contar de 1771, quando os primeiros colonos provenientes da Mazagão africana foram instalados, a produção começou fraca, mas em 1773, a exemplo de Macapá, já exportava arroz para Belém. Na Colônia Pedro II, criada em 1840 à margem esquerda do rio Araguary, a agricultura não prosperou. Porém, a partir de 1891, posicionada no local onde está a cidade de Ferreira Gomes, os resultados foram relativamente apreciáveis. A colônia produziu arroz, feijão, farinha e outros gêneros. Até um trapiche foi construído, servindo de atracador para navios egressos de Belém, que transportavam estes produtos para a capital do Pará. As febres palustres e a pobreza do solo fizeram a colônia regredir. Em 1890, no lugar denominado “Ponta dos Índios”, o governo republicano do Brasil mandou construir 12 casas de madeira para abrigar um contingente do Exército e colonos. Entretanto, o local foi mal escolhido e o projeto de povoamento da região não teve êxito. Transferida para a localidade de Santo Antônio, à margem direita do Rio Oiapoque, a Colônia Militar ali permaneceu até 1920, ocasião em que surgiu o Núcleo Colonial de Clevelândia. Nos anos de 1920 e 1921, várias casas foram construídas para abrigar colonos nordestinos flagelados pela seca.
O local dispunha de hospital, serraria, escola, estação rádio-telegráfica, luz elétrica, armazém e capela. Em 1923, quando 30 famílias já atuavam na área, prisioneiros políticos e até 158 condenados por crimes comuns lá desembarcaram prejudicando a iniciativa. No período de 1925 a 1927, uma devastadora epidemia de desinteria bacilar ceifou a vida de 42% da população. Em 1935, o governo federal extinguiu o núcleo colonial e colocou Clevelândia sob jurisdição do Ministério da Guerra. Em 1949, quase seis anos após a criação do Território Federal do Amapá, o governador Janary Nunes distribuiu lotes de terras a 12 colonos nordestinos ao longo da estrada que liga a base aérea a Oiapoque. A partir de 1950, o governo territorial iniciou a elaboração de um projeto visando a criação de uma colônia agrícola entre as vilas de Porto Grande e Ferreira Gomes. Outra tentativa agro-pecuária foi realizada na região do rio Matapi, distante 120 km de Macapá. A Colônia Agrícola do Matapi começou a funcionar em fevereiro de 1949 e em março de 1950 registrava a presença de cinco colonos.
No mês de junho desse ano havia 17 casas abrigando 100 pessoas. Os lotes de terra tinham a forma retangular medindo 300 m de largura e mil metros de comprimento. Durante os dois primeiros anos cada colono casado recebeu Cr$ 500,00(quinhentos cruzeiros) mensais em forma de pecúlio. Quase todos os colonos vieram de sítios existentes ao longo da Estrada de Ferro de Bragança e plantaram arroz, milho, mandioca, feijão, macaxeira, batata doce, jerimum, hortaliças e frutas diversas, mesmo enfrentando os ataques do “chupão”, da formiga-de-fogo e da saúva. O arroz produzido era beneficiado na usina que o governo tinha instalado no Posto de Experimentação Agropecuária da Fazendinha. As sementes eram distribuídas gratuitamente pela Divisão de Produção e o governo comprava toda a safra.
Submarinos alemães afundados na costa do Amapá
Kaiserliche Marine da Alemanha utilizou 1.168 submarinos na II Guerra Mundial. Cerca de 150 atuaram no litoral brasileiro e afundaram 33 navios mercantes que transportavam matérias primas para os Estados Unidos da América. Os alemães identificavam estas poderosas armas como “Unterseeboat”, que literalmente quer dizer “pequeno barco de baixo-de-água”. De forma simplifica, usavam a letra U e um número para identificá-los. Singrando as águas atlânticas, entre os Estados Unidos e o Golfo do México, os U-boats tinham o propósito de afundar navios de carga que transportavam suprimentos e material bélico dos Estados Unidos e Canadá para a Europa. Ao entrarem na guerra, os Estados Unidos fizeram uso de radar, sonar, carga de profundidade, decodificação de códices, escolta aérea e formação de comboios, diminuindo a eficácia alemã. Em meados de 1941, começou a ser instalada a “Cintura do Atlântico”, que correspondia ao trecho de 1.700 milhas entre Natal e Dacar. O Brasil autorizou os USA a instalar bases aéreas nas cidades de Amapá, Belém, Natal e Recife e liberou-lhes os portos de Recife e Salvador. Ainda em meados de 1941, chegava a Natal a “Task-Force 3” dos Estados Unidos. Em represália, os alemães atacaram navios brasileiros na costa americana e no Caribe. Foram a pique os navios Cabedelo, Buarque, Olinda, Arabutan, Cairu e Parnaíba. Em águas brasileiras, o submarino italiano “Bergarigo” torpedeou sem sucesso o navio Comandante Lira. Barcos corsários camuflados de navios mercantes supriam as necessidades dos submarinos alemães. Havia U boats que só faziam o abastecimento dos outros e eram chamados de “milchkuh” ou vaca leiteira. A Força do Atlântico Sul, criada pelos americanos estava sediada em Recife. A ação contra os U-boats destruiu nove unidades alemãs, duas delas na costa do Amapá: U-590 e U-662.
O U-Boat-590, comandado pelo capitão OBLT Werner Kruer vinha sendo caçado porque afundara o navio Pelotas Lóyde. Navegava na superfície ao largo da costa do Amapá, em alto mar, dia 9/7/1943, quando o avião Catalina PBY-3, do Esquadrão PV-94 sediado em Belém, que patrulhava a região norte o avistou a 200 milhas do litoral amapaense. Ao perceber a aproximação do avião o submarino emergiu e desapareceu por cerca de uma hora. Logo depois retornou á superfície, ocasião em que o catalina mergulhou sobre ele e lançou suas bombas, atingindo-o em cheio. O U-590 foi ao fundo no ponto demarcado por 3º e 22’ de Latitude Sul e 48º, 38’ de Longitude Oeste.Restaram na superfície do oceano 5 homens e vários destroços. A tripulação do Catalina jogou ao mar várias balsas, mas apenas 2 alemães conseguiram alcançá-las. Horas mais tarde eles foram recolhidos por um navio e levados para os Estados Unidos e submetidos a interrogatórios.
O U-Boat-662 navegava ao largo da costa do Amapá, no dia 21/7/1943, comandado pelo capitão OBLT Heinz-Eberhard Muller, a espreita do comboio T3-2, que seguia com destino aos Estados Unidos. Ele já havia afundado três navios. O Catalina 94-P-4, que dava cobertura aos navios brasileiros avistaram o submarino a 4 milhas de distância e se posicionou para o ataque. O submarino imediatamente acionou a artilharia antiaérea, conseguindo ferir o radiotelegrafista do avião. O aparelho iniciou um pique raso, já atingido pelo fogo inimigo. Mesmo com problemas no estabilizador vertical e na cantoneira exterior do casco da estação radiotelegráfica, o Catalina conseguiu despejar suas bombas sobre o submarino, atingindo em cheio o casco a bombordo, da torre de comando à frente da proa. Esta se elevou sob espessa cortina de fumaça e o submarino afundou sob mancha de óleo. Pouco tempo depois, quatro tripulantes, entre eles o capitão foram vistos na superfície do oceano. O Catalina lançou balsas, para onde nadaram os sobreviventes que foram resgatados pelo navio USS – S Siren e levados para os Estados Unidos. Bastante danificado o catalina 94-P-4 retornou a Belém com problemas hidráulicos e de comunicação pelo rádio. O submarino foi a pique na posição Latitude 3º 56’ Sul e Longitude 48º 46’ Oeste.
A inauguração da loja maçônica Duque de Caxias
Às 15h20min do dia 18 de novembro de 1948, chegava a Macapá uma embaixada formada por 23 maçons paraenses, alguns acompanhados de suas esposas, viajando num avião DC 3 dos Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul, sucedânea da Panair do Brasil Ltda. Os visitantes foram recepcionados no antigo aeroporto da Panair do Brasil pelas autoridades territoriais e maçons locais.Após o embarque a comitiva seguiu para o Macapá Hotel, onde,às 16 horas foram saudados e tomaram sorvetes de frutas regionais. Ás 16 horas, a embaixada visitou a Fortaleza São José, que estava sendo restaurada.
Os maçons paraenses vieram a Macapá assistir a instalação e a regularização da Loja Maçônica Duque de Caxias, dia 19 de novembro, data que caiu numa sexta-feira. A instituição foi fundada no dia 1º de julho de 1947, sob jurisdição da Grande Loja do Pará, que a registrou com o número 16. O importante acontecimento estava incluído na programação oficial do Território Federal do Amapá comemorativa ao dia da Bandeira Nacional. Às 9h10min do dia 19 de novembro houve a consagração e a regularização do templo maçônico erguido à Avenida Braz de Aguiar, que posteriormente recebeu o nome de Coriolano Finéas Jucá. À época, as pessoas comuns e excentricamente carolas julgavam que a Maçonaria era uma instituição religiosa que tinha parte com o Demônio, cultuando na figura de um bode. Até hoje, a maioria do povo não sabe que a Maçonaria é uma instituição de abrangência universal, essencialmente filosófica, filantrópica, educativa e progressiva. Não distingue o homem pela raça, cor, credo ou nacionalidade. Visa primordialmente o aprimoramento do homem. Proclama a prevalência do espírito sobre a matéria e busca o aperfeiçoamento moral, intelectual e social da humanidade. Seu lema é composto pela tríade LIBERDADE, IGUALDADE e FRATERNIDADE, dentro dos princípios da Razão e Justiça, ou seja, liberdade de consciência, a igualdade de direitos e deveres e a fraternidade universal. Afirma que o sectarismo político, religioso ou radical é incompatível com a universalidade do espírito maçônico e proíbe expressamente a discussão político-partidária. Combate a ignorância, o fanatismo, a superstição, o obscurantismo e a tirania de todas as formas. Combate o vicio, a escravidão e a imoralidade sob todos os seus aspectos.
A palavra maçom é de origem francesa e significa pedreiro. Alguns autores julgam que a sociedade maçônica deve sua existência a uma confraria de pedreiros construtores que, na idade média, percorreram a Europa e construíram catedrais góticas. O ideal maçônico, no Brasil, esteve presente na Inconfidência Mineira, na Conjuração Baiana, na Revolução Republicana, no episódio do Fico e na Declaração de Independência do Brasil. Até a obtenção de terreno para erguer o prédio da Loja Maçônica Duque de Caxias, seus idealizadores reuniram-se na residência do irmão Antônio Valdemar Veiga, servidor do Banco de Crédito da Amazônia, e mesmo na Superintendente do Serviço de Transportes do governo amapaense, órgão que congregava Serviço de Navegação e o Serviço Rodoviário, cujo titular era Eloy Monteiro Nunes. O nome da loja foi sugerido pelo tenente José Alves Pessoa, em reunião realizada no dia 10 de fevereiro de 1947, aceito por todos, para homenagear Luiz Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias. Sempre entendi a maçonaria como coisa absolutamente normal. Acostumei-me a ver meu pai, Francisco Torquato de Araújo, que integrou seu quadro de artífices, preparar-se para participar das reuniões da entidade. Por respeito, nunca procurei saber detalhes sobre os princípios filosóficos da importante instituição. Até hoje não distingo sinais, cumprimentos ou palavras chaves.
Os maçons que eram amigos de meu genitor me chamavam de sobrinho, o que não me incomodava e também não mexia com minha curiosidade. Quando antigos fregueses comerciais de meu pai o convidavam para ser padrinho de seus rebentos, não havia recusa, mas eu era designado para representá-lo na hora do batismo. É que sendo maçom, papai não podia participar do aludido sacramento. Uma grande bobagem cometida pela Igreja Católica, pois cansei de ver meu genitor rezando e lendo publicações religiosas, inclusive a bíblia.
Largo dos Inocentes
Largo dos Inocentes consta na planta da Vila de Macapá traçada em 1761. As casas dos moradores deveriam ser construídas nas suas duas laterais, após a Igreja de São José. A largura do logradouro correspondia ao trecho ocupado pelo templo e pelas duas travessas que o separavam da Casa Paroquial e do Senado da Câmara respectivamente: Travessa de Santo Antônio e Travessa do Espírito Santo. No ponto de fundo paralelo a igreja ficava a última via pública da vila, que ostentava o nome do fundador de Belém, Capitão Francisco Caldeira Castelo Branco. Uma passagem, denominada anos mais tarde de Coronel José Serafim Gomes Coelho interligava o Largo dos Inocentes com a Rua General Gurjão e com a Travessa Floriano Peixoto. Ao lado esquerdo da Igreja de São José o espaço abrigaria a casa do vigário Miguel Ângelo de Moraes. No lado oposto foi construído o prédio do Senado da Câmara (atual Biblioteca Pública Elcy Lacerda). As casas que circundavam o Largo dos Inocentes tinham paredes barro (taipa de mão), assentadas em traçados de varas de taboca (bambu) atracadas a esteios de aquariquara. Não havia espaço entre uma casa e outra. De cada lado figuravam aproximadamente 15 casas. Ao longo da existência de Macapá, inúmeras famílias ocuparam as moradias. Em anos mais recentes, que antecederam a criação do Território do Amapá, famílias tradicionais ali se estabeleceram, entre elas: os Lino da Silva, os Tavares do Carmo, os Tavares de Almeida, os Serra e Silva, os Lino Ramos, os Tavares Gaia, os Lemos, os Mariano Picanço, os Gaia, etc. O Largo dos Inocentes tinha então a maior concentração populacional de Macapá e as famílias mais numerosas, por isto dizia-se que o local parecia um formigueiro humano.
Em 1948, com a chegada dos Padres Italianos, a configuração do Largo dos Inocentes mudou. O trecho da Travessa José Serafim Gomes Coelho, entre o Largo e a Avenida Presidente Vargas (ex-travessa Floriano Peixoto) foi fechado devido a ampliação da área que o Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras – PIME, que ainda permanece entre nós.Isso foi necessário para instalar o Oratório Festivo e Recreativo São Luiz. As casas edificadas entre a passagem e a casa do Vigário foram desapropriadas. O domínio dos Padres ganhou cerca e virou “Quintal dos Padres”, local muito freqüentado pelas crianças da Paróquia de São José. Na área conquistada foram construídos: O Salão Paroquial Pio XII, a quadra polivalente de vôlei, basquete e futebol-de-salão, a Escola Paroquial São José, a sede da Juventude Operária Católica, a sede do Grupo de Escoteiros Católicos São Jorge, o Pensionato São José e o Cine Teatro João XXIII. No Salão Paroquial era celebrada a Santa Missa de Domingo, encenadas as peças teatrais dos meninos e das meninas e as exibições cinematográficas em máquinas de 16 milímetros . Depois da missa, os moleques ruins de bola jogavam futebol no Largo dos Inocentes, a despeito do solo ser duro e repleto de piçarra.
O Largo dos Inocentes tem este nome por causa da Rua dos Inocentes que ligava a Rua do Lago (General Gurjão) e a atual Coriolano Jucá, que já teve a denominação de Braz de Aguiar e se estendia desde a Vila Santa Ingrácia e a estradinha que dava acesso ao “campo de pouso de aviões” da cidade No largo, eram realizadas as festas em louvor a Nossa Senhora Menina, ao Menino Jesus e aos pequenos Mártires Inocentes do inicio do cristianismo. Os festejos destinados a São Raimundo Nonato, São Luiz Gonzaga, São Benedito, São Sebastião e Nossa Senhora do Rosário aconteciam no interior da igreja. A parte litúrgica em louvor ao Divino Espírito Santo e Santíssima Trindade também. Porém, desde o tempo em que o Padre Júlio Maria Lombaerd foi Vigário da Paróquia de São José, a parte profana ocorria no Largo de São João. Bem definida pelo sacerdote com a aceitação dos católicos praticantes, o evento ganhou o titulo de Festa das Coroas, desdobrada em duas quadras: Divino Espírito Santo e Santíssima Trindade. Os festeiros e os foliões do chamado Marabaixo não dispensavam costumeiras visitas ao Largo dos Inocentes, principalmente no período em que faziam o recolhimento dos donativos. Ainda assim, tinham que prestar contas ao Padre Júlio, afinal de contas não é ético e moral alguém colocar santo em esmola e se apropriar do dinheiro e bens arrecadados.
Nos dias atuais, o Largo dos Inocentes está muito descaracterizado, mas continua a mexer com a imaginação de muita gente. Há até quem diga que naquele espaço existiu um cemitério. Outros dizem que era um cemitério só de crianças não batizadas, daí a termo inocente. Não me consta que no catolicismo as crianças pedem a inocência depois do batismo, já que o sacramento instituído por João Batista lhes é ministrado em tenra idade. No período em que presidi o Conselho Estadual de Cultura ( 2004 a 2010), foi gerado um processo visando o tombamento do Largo dos Inocentes, pelo seu valor histórico e etnográfico. Os governantes não lhe deram a atenção devida.
Agricultura, produção e venda
Ainda em 2019, o empirismo agrícola prevalece na lavoura do Amapá. Nossos agricultores continuam utilizando o machado e o fogo para limpar as áreas desmatadas destinadas as suas roças. Raramente algum produtor agrícola pode fazer uso de arado, trator, grade e adubo em suas plantações. A cultura da mandioca segue despontando como a de maior prática porque farinha todo mundo come.
Com a mandioca ralada e puba se obtêm a tapioca(da qual se faz o beiju) e o tucupi, que é muito apreciado. Como os solos do Estado do Amapá são em grande parte laterizados, os agricultores optam por culturas mais resistentes. A concorrência de gêneros produzidos em larga escala, com boa colocação no mercado dificulta a venda de seus produtos. Em 1751, quando os colonos açorianos chegaram a Macapá, plantando de imediato suas roças, as chuvas foram implacáveis com eles. Os açorianos voltaram a plantar arroz, milho, feijão, urucum, mandioca e hortaliças a partir de junho de 1752.
Em Mazagão, a contar de 1771, quando os primeiros colonos foram instalados, a produção começou fraca, mas em 1773, a exemplo de Macapá, já exportava arroz para Belém. Na Colônia Pedro II, criada em 1840 à margem esquerda do rio Araguary, a agricultura não prosperou. Porém, a partir de 1891, posicionada no local onde está a cidade de Ferreira Gomes, os resultados foram relativamente apreciáveis. A colônia produziu arroz, feijão, farinha e outros gêneros. Até um trapiche foi construído, servindo de atracador para navios egressos de Belém, que transportavam estes produtos para a capital do Pará. As febres palustres e a pobreza do solo fizeram a colônia regredir. Em 1890, no lugar denominado “Ponta dos Índios”, o governo republicano do Brasil mandou construir 12 casas de madeira para abrigar um contingente do Exército e colonos.
Entretanto, o local foi mal escolhido e o projeto de povoamento da região não teve êxito. Transferida para a localidade de Santo Antônio, à margem direita do Rio Oiapoque, a Colônia Militar ali permaneceu até 1920, ocasião em que surgiu o Núcleo Colonial de Clevelândia. Nos anos de 1920 e 1921, várias casas foram construídas para abrigar colonos nordestinos flagelados pela seca. O local dispunha de hospital, serraria, escola, estação rádio-telegráfica, luz elétrica, armazém e capela.
Em 1923, quando 30 famílias já atuavam na área, prisioneiros políticos e até 158 condenados por crimes comuns lá desembarcaram prejudicando a iniciativa. No período de 1925 a 1927, uma devastadora epidemia de disenteria bacilar ceifou a vida de 42% da população. Em 1935, o governo federal extinguiu o núcleo colonial e colocou Clevelândia sob jurisdição do Ministério da Guerra.
Em 1949, quase seis anos após a criação do Território Federal do Amapá, o governador Janary Nunes distribuiu lotes de terras a 12 colonos nordestinos ao longo da estrada que liga a base aérea a Oiapoque. A partir de 1950, o governo territorial iniciou a elaboração de um projeto visando a criação de uma colônia agrícola entre as vilas de Porto Grande e Ferreira Gomes. Outra tentativa agropecuário foi realizada na região do rio Matapi, distante 120 km de Macapá. A Colônia Agrícola do Matapi começou a funcionar em fevereiro de 1949 e em março de 1950 registrava a presença de cinco colonos.
No mês de junho desse ano havia 17 casas abrigando 100 pessoas. Os lotes de terra tinham a forma retangular medindo 300 m de largura e mil metros de comprimento. Durante os dois primeiros anos cada colono casado recebeu Cr$ 500,00(quinhentos cruzeiros) mensais em forma de pecúlio.
Quase todos os colonos vieram de sítios existentes ao longo da Estrada de Ferro de Bragança e plantaram arroz, milho, mandioca, feijão, macaxeira, batata doce, jerimum, hortaliças e frutas diversas, mesmo enfrentando os ataques do “chupão”, da formiga-de-fogo e da saúva. O arroz produzido era beneficiado na usina que o governo tinha instalado no Posto de Experimentação Agropecuária da Fazendinha.
As sementes eram distribuídas gratuitamente aos agricultores, pela Divisão de Produção e Pesquisa, e o governo comprava toda a safra.
Atualmente fala-se bastante no agronegócio, tendo a soja como produto promissor.Problemas jurídicos com as terras usadas no plantio já foram detectados, motivando a anulação de registros feitos pelo INCRA.