Osmar Júnior
De Bob Marley à Costa Norte
Quando ouvi Bob, chorei. Sabia do que havia atrás da ideologia daquela música jamaicana. Ele me ensinou a real essência do compositor idealista, que foge dos clichês modistas, quer criar sua própria nave sonora, quer o sucesso e a liberdade pra si e pra sua gente, como remédio para a injustiça social, e faz música com paixão.
Os melhores sons são os afros, até porque tudo é afro, mas também quero dizer que os melhores sons são acompanhados de originalidade, de valores políticos e sociais, e servem de espada para um povo em guerra ou paz. Na nossa realidade imaginei junto com Amadeu, Val, Zé e tantos outros que fizeram o Movimento Costa Norte, uma ilha musical que pudesse enriquecer seu povo de bens materiais e imateriais, fizemos força, puxamos o marabaixo e o batuque para a popularidade, apontamos para nossos valores turísticos e culturais, fizemos intercâmbios com nossas fronteiras, através dos ritmos e das parcerias, ajudamos a mudar o panorama cultural de nossa época.
Mas precisávamos de mentalidades mais abrangentes na política e no meio empresarial para que nossa ilha fosse construída.
É…, a Jamaica é pobre, o Amapá também.
Se aqui tem milionários, eles são pobres de espírito, pois não vemos neste estado nem um sinal de riqueza; fachadas de empresa não valem, pois fachadas são apenas fachadas, iguais a quem investe uma dinheirama em propaganda para sua empresa e não incentiva os valores públicos.
Insisto: o turismo e a cultura precisam ser parte da economia do Amapá. Crescemos em população, expandimos Macapá, no entanto precisamos de um novo recurso econômico organizado. Das velhas cabeças, nada, eles não acreditaram o suficiente em seus valores materiais e imateriais. Será que seremos uma miniSão Paulo, que não aguenta mais?
Fiz uma pequena pesquisa entre os músicos e todas as classes culturais. Estamos mais interessados do que nunca em crescer. A velha e nova gerações estão a postos para acreditar em um novo herói na política.
Quanto a Bob Marley, continua vivo pra dizer que você precisa de uma ideia, e não somente de um som perfeitinho e sem sentido.
Bom domingo.
Terra, o laboratório de Deus
Viva sem aflição.
Deus está dentro de você, e tudo vai acontecer.
Seu tempo aqui vai se cumprir, assim como o tempo de todas as coisas vivas.
A humanidade vai emagrecer, pois tudo é invenção do capitalismo; vamos caminhar mais, o carro de luxo vai virar lixo, a AIDS será apenas uma gripe, novas drogas, raio laser e órgãos humanos serão cultivados em laboratórios, a roupa de marca não é nada perto da sua personalidade e sua capacidade de amar, assim como o iate de milhões não é nada perto do tsunami, seu religare com o amor fará do seu corpo um templo. Envelheça corajosamente, e escreva ou faça algo que marque sua passagem por esta vida, pois vamos morrer, e nisso somos iguais, não tem aí preto nem branco, bonito ou feio, pobre ou rico, apenas a história.
O céu já foi comprado pelas religiões, por aqui já está bem difícil um teto ou terra, pois tudo já tem dono. E há uma nova Terra descoberta no Cosmos (Kepler 186f).
Não sei quando chegaremos lá, mas minha canção chegará. Portanto, faça o possível pra ser feliz para que todos sejam felizes perto de você. Seja uma canção de amor e paz.
Bom domingo.
A cápsula milagrosa
– Se o tal comprimido para ajudar na cura do câncer funcionasse seria um mero e artesanal recurso no tempo, cortando a garganta da indústria farmacêutica, momentaneamente, porque não há quem me convença que essa cura já não possa ser praticada há muito tempo com mais eficiência. Mais será que Deus quer?
Através de nós e da natureza, Deus existe, fala e inventa soluções para os males que nos atinge. Mas somos nós que criamos as doenças.
O mercado de armas que chega até às facções criminosas é uma invenção de Deus? A droga que anestesia as dores, mas também entorpece o homem é uma invenção de Deus? Penso que sim, mas o pobre homem se perde e nada sabe sobre limites.
Sei que o dinheiro que comprou Judas era de César, e que o dinheiro dos corruptos é do povo – dai ao povo o que é do povo, corruptos.
Quem inventou o desamor? Esse representado pelas filas de gente tão doente, ainda sofrendo sem ajuda suficiente, água em Marte, será que cura o câncer? Temos que aprender o Tempo de Deus no tempo da dor.
A Justiça só faz aumentar seus ganhos, assim como o resto dos poderes, assunto cansado, mas será que não há um despertar do maior partido do mundo? A consciência.
A consciência junto com a revolta pode pressionar essa turba de estúpidos a dar saúde ao povo.
Saúde megera! Brindo a senhora, você é cega e não pondera mais o sofrimento que nos causa, executa suas correções salariais, se é que são correções. O correto é fazer essa gente feliz num país desenvolvido; não vou me furtar de dizer ao povo que no fim somos todos culpados.
A cápsula milagrosa é uma mentira ou algo que uma conspiração não quer que seja verdade?
Bom domingo.
A homilia da roseira
Respondendo, Deus falou, através da homilia do frei capuchinho Martinelo, na Missa de um domingo desses: “Cristo morreu em sacrifício por nossos pecados; com isso venceu a morte”. E é esse o sentido da vida, vencer a morte, a morte física é inevitável, certa, o destino do rico e do pobre, do branco e do preto, do belo e do feio, do Edir Macedo e do papa Francisco. Enfim, a bela e boa morte que nos livra do peso da velhice, das doenças, das dores do mundo – é um afago de Deus.
Há quem morra espontaneamente, como a moça americana que conseguiu na Justiça licença para o suicídio, pois não quis sofrer as dores do câncer. Existe morte prematura, acidental, morte por ladrões de vida, e há quem morra de amor.
Vivemos lado a lado, todo tempo com ela. Pode ser que continuemos esse purgatório quando passarmos para outra com nosso egoísmo, nossa frieza perante a vida, nossa pouca vontade de evoluir espiritualmente. Isso é o verdadeiro inferno na alma. O homem quer ser salvo com sua consciência de vida atual, não percebe que a maior parte dessa consciência é adquirida durante a vida vivida, ou seja, não vem conosco, não percebemos que o espírito em sua origem é como uma criança, puro. Então sejamos crianças, sejamos como nascentes de rios. Vamos fazer tudo pra ser feliz. Acredite na roseira, pois você é uma flor que cairá e dará lugar a outra flor, mas a roseira estará lá e devemos zelar por ela, fazer o melhor possível.
Outra forma de espiritualidade é o sangue, porque dentro de você mora todos os seus ancestrais, seus fantasmas, seus dons, pois seu dom e seu sangue vêm de longe e vão para longe no tempo. Converse com seus ancestrais, e você ficará maravilhado com as respostas.
– Será que vamos conseguir nos cultivar como em hortas? Será que vamos virar robôs e ver um pouco mais da vida? Ou temos um limite espiritual que não suporta viver mentalmente mais do que devemos?
– Quero lembrar que a consciência ecológica é uma espiritualidade importante para que esta “civilização” não seja extirpada deste planeta mais uma vez, porque a terra é um ser vivo e nós estamos mais para piolhos perturbadores do que para filhos de Deus. Somos uma praga, nós e nossos carros, nossas fábricas, nosso consumismo, nosso materialismo exacerbado. Todos os mistérios do mundo antigo dizem que precisamos evoluir socialmente, tecnologicamente e ecologicamente. Nossos foguetes caem, a religião é uma empresa de providencialismo, o fundamentalismo nos atrasa, não compreendemos a Bíblia a partir da evolução, só esperamos por bens e salvação, não fazemos nada pelo o amor de Deus, pobres de nós. Jerusalem é promessa de guerra. Não temos paz e não damos paz a esse planeta, e queremos um paraíso no céu, como? Temos paraísos na terra e os destruímos. O verde ainda queima aqui, que venha então a chuva, uma chuva de consciência ou para lavá-la, uma chuva paulista, uma chuva amazônica.
Precisamos diminuir a emissão de gases até o fim deste século, e colocar em prática as fontes de energia renováveis. O combustível fóssil é uma máfia, não nos deixa evoluir, e nós vamos sofrer as consequências disso. Podemos ser mortos por nossa ignorância, e essa é a pior morte, a morte do humanismo. Então, ouça essa canção: é o amor de Deus que toca em nossa alma o tempo todo. Porque eu não sei de nada melhor que o verde pra dar vida, simples assim. Ele vale a vida na terra. A roseira.
Bom domingo, Osmar Jr.
Desiderata aos loucos que amam
Abro portais na minha mente, ando por aí falando com espíritos maus e bons, porque em qualquer plano todos precisam de algum diálogo. Aproximo-me de fé com obras e não preciso que leiam a Bíblia por mim; não vou apagar meus pecados, vou abrandá-los, eles serão lidos em voz alta no dia da minha morte, pois o coração de um homem é o livro das suas verdades. Existem verdades no coração daqueles loucos que não abandonaram o amor, inclusive o amor próprio.
Tenho que aprender a ser mais paciente em casa, no trânsito e dentro de mim, pois sou um mar revolto e procuro águas calmas.
Crio dentro de mim uma nova religião chamada desideratismo, da qual os mais lindos profetas têm parte; não destruo a origem dessa ordem, que é um poema que vem dos ensinamentos de todos os mentores de todas as religiões, embora descrito por Max Ehrmann…
Poetas são loucos que acreditam no amor, em um mundo melhor; a poesia é escrita com os pés, com sangue, com revolta e coragem, e assim chega um dia a ser vadia, vivida em beira de rio e em praças, pois já passou pelas calçadas entre vômitos e os pássaros da manhã; já chorou de dor e de prazer; perseguida, foi crucificada, morta e sepultada, e ressuscitou, está sentada na terra ao lado dos corações que ainda se surpreendem com a vida. O poeta quer paz entre as religiões para a construção de um único mundo, de uma só religião – o amor.
Se a palavra não passar, a poesia também não passará; arcas e corpos desapareceram para dar sentido à religião, o amor do poema, não, ele não morrerá, seu espectro ficará vagando entre o céu e o inferno musicalmente sem medo – será água aos transeuntes.
Quem tem medo do demônio é porque não tem amor no coração, o escudo, a espada, a inteligência dos anjos, não o poder, mas a inteligência que vem da sabedoria que Deus permitiu existir em nós.
Neste domingo de tanto eu, perdoem-me e ouçam Desiderata.
Tudo que se deseja é amar, então siga tranquilamente…
By Osmar Jr
A Era do Regionalismo em nova ordem
Na arte sou um buscador da universalidade, a partir da região. Isso leva à criação do gênero que vai ser descoberto mais tarde por um público também buscador. O novo esta por aqui, e isso me interessa, dá sentido à minha vida artística.
A nova era deve ser levada a sério pois em todos os setores sociais ela deverá influenciar filosoficamente, e dar à humanidade já cansada um novo horizonte de qualidade de vida. São diversas as transformações, que vão dos desastres naturais ao caos das grandes cidades, do uso consciente da água à substituição do combustível fóssil, da paz religiosa à evolução política e da educação ambiental ao coração do homem.
A nova era abrirá literalmente o cérebro humano e teremos longevidade, pois isso nos fará parecidos com os seres bíblicos que viviam centenas de anos, pois é comum a evolução do corpo humano. Através da ciência, perdemos a proximidade do divino, e os homens foram demais seduzidos pela tecnologia e as marcas supérfluas que as redes de comunicação nos atiram a todo segundo. O novo homem estará mais próximo da natureza e terá alimento mais saudável.
Por isso canto e faço do Amapá meu universo criativo, pois o futuro dessa qualidade de vida não está nas grandes metrópoles, e sim nesses santuários, onde o homem voltará a adorar o simples. Hoje, velhas bandeiras políticas de lutas populares são corrompidas pelo dinheiro e estragam o país. Esta é a hora de novas mentalidades. Mas o que nossa juventude anda vendo é corrupção, violência institucionalizada, sexo sem limites e muita banalização do respeito. Para muitos, o ceio familiar é o início da mudança. Como estará esta cultura dentro de casa?
Não é de hoje que ser pai ou mãe é dizer sim de forma desmedida. Isso é quase doentio, é transferir para os filhos seu ego insatisfeito, relações abaladas e sabe lá o que mais. A relação com os pais não pode ficar no materialismo. A televisão prega a violência e a cultura de massa com inclusão social e exclusão de qualidade; os aplicativos servem de fuga à solidão urbana e a religião é quase um franchising. O povo vê muita novela e nada de livros; as cidades estão no caos. Quem quer viver neste caos infernal?
Então aceite esta cultura regionalista como avistamento da nova era. Pode estar aí o nosso talento natural, futuro para o Amapá.
Bom domingo.
Oh rio, nada mais tenho pra cantar
Agora vai aparecer um monte de gente chorando sobre o leite derramado. Os rios Araguari e o Piratuba perderam suas forças; suas rotas migratórias de peixes, sua água doce e propriedades fantásticas como a pororoca. Nada mais a música pode avisar, nada mais tenho pra cantar sobre esses santuários profanados.
Todo esse prejuízo passou sob os narizes empinados de nossos pobres políticos que podiam exigir do governo federal, pelo ao menos mais cuidados técnicos, mais eficiência no trato com o meio ambiente e mais benefícios para a população do Amapá.
O estado do Pará caiu nas mesmas historinhas de impacto ambiental, e agora suas populações tradicionais sofrem. Aqui, os técnicos deram um parecer a favor desses projetos que serão energia para o país, ao qual parece que não pertencemos. Sempre cantei isso também.
Os fazendeiros não querem pagar pela cerca que pode salvar o Piratuba, para o gado já descontrolado, não arrasar com tudo. Sejamos francos: o governo federal e essas empresas poderiam resolver essa sacanagem que fizeram com a gente, como forma de aliviar nossas dores. E que seja a última. Tenho falado aos povos indígenas que vamos precisar pegar em armas se quiserem um dia exterminar nossos rios e reservas. O Araguari é o Cristo, e que não venha acontecer com outros rios, como o Calçoene, por exemplo. Precisamos crescer sim, mais com inteligência.
Pra mim, o Amapá sempre foi roubado, injustiçado, e projetado para o Brasil com os mais ridículos resultados de pesquisas e imagens, como se o pais não tivesse seus podres. Existe uma conspiração voluntária ou involuntária que quer manter o povo dependente de currais políticos. O que vamos fazer com nossos filhos depois que saírem das faculdades? Empregá-los no estado ou município? Como podemos ter tanta esperança através de nossas canções, que acreditam em um estado a partir do turismo ecológico e da cultura para viver bem, para ser mais bonito?
O maior dos emblemas de nossa incompetência politica é o que acontece com o rio Amazonas, que é agredido por nossos dejetos o tempo todo. Salvem o grande rio! Essa é nossa maior responsabilidade com água e com nós mesmos, pois a natureza é o espirito de Deus.
Peço ao povo que nasceu aqui, e ao povo que abraçou o Amapá como terra sua e de seus filhos: pelo amor de Deus, não deixem que nos vendam, que nos destruam, pois nada mais tenho pra cantar.
Bom domingo
Mulheres auto-sustentáveis
Viva as mulheres autossustentáveis! Esqueça as flores, as cartas de amor e serenatas. O que elas querem é caro. Agora alcançaram a independência. Assumem cargos profissionais e políticos, e funcionam muitas vezes melhor que os homens. Mas essas, são minorias.
São Giselles, Júlias e Graces.
Depois vem uma chuva de mulheres fazendo filhos por pensão alimentícia e bolsa família. Acredite, são muitas. E uma outra parte está aí com todo o silicone pra ganhar carros ou apartamentos ou se transformar em mulheres frutas.
Desculpe, tenho medo da extinção daquele amor, antigo amor. O que posse dizer: colecionei sentimentos, tive sorte de ter mulhares autossustentáveis.
CONVERSA DE BAR
– Agora temos que ter alguma grana e alguns comprimidos azuis, disse um amigo meu.
O outro
– Preserve seu casamento.
E um outro ainda
– Não seja pão duro. Dê o presente que elas querem e parta pra cima.
Teve um que foi enfático
– Não bebo mais, tô de cabelos brancos, amo minha mulher, sou rei da felicidade, sou pai e tô rico.
E um outro finalizou
– Gastei a porra da grana toda com mulher e festa. Não tenho nem plano de saúde.
Recebi uma visita, semana passada. Estava em casa sozinho, segunda-feira, e adormeci meu sono intenso. Ela tocou a campainha e fui atender. A figura estava ali, em pé, com os lábios vermelhos, sem maquiagem e os olhos violetas.
– Posso falar com você, disse ela.
Pedi que ela entrasse. Ofereci-lhe uma cadeira e água. Ela tá fazendo faculdade de filosofia. Conversamos a tarde toda, sobre viagens, grandes escritores, preservação do planeta e do amor. E sobre música, claro.
Ela não queria nada de mim, pois tinha tudo. Desde esse dia não consigo acorda desse sonho – não consigo.
Bom domingo, Osmar Júnior.
Um barco para o céu
Ao ver o corpo de uma criança na praia dormindo seu sono eterno, o que podem dizer os poemas?
As mulheres numa tentativa de travessia parece que levaram bóias infantis. Aquelas bóias coloridas são brinquedos feitos de súplica a um mar furioso onde as mães pedem desesperadas para que ele tenha piedade da vida de seus filhos.
A Sodoma do deserto ainda existe, e o justo está morto nas almas afogadas. Agora diga ao anjo que destrua o mal pela raiz. Quem foi que escreveu a fome e a fraqueza de quem foge com o filho no colo e os calos nos pés?
Leva daqui pra lá não sei pra onde na base de água ou fogo toda essa dor, porque as lágrimas formam um oceano de tristeza e medo nesse tempo de fim.
Deus pai, o que fizeram em teu nome? Não vês que tememos ficar fora deste céu tão egoísta? De que é feito o coração das guerras? Será feito da busca pelas tuas promessas? Será feito daqueles que se declaram incluídos nas hierarquias celestes e donos da chave do paraíso? Agora, igrejas, recolham os feridos das guerras, sem dízimo, por favor.
Mortos os ditadores e os crápulas da religião, ficam os xenófobos apedrejadores, os neonazistas e a covardia das nações do mundo. Fica o comércio de armas e a mente frágil da juventude recrutada pela tela de um computador.
Agora põe um barco no mar e leva os inocentes pro teu céu. Leva desse mundo de desperdício e fome, de pouca paz, desde Jerusalém até a África, onde morre gente que nem nasceu ainda. Agora o mar parece um aquário de crianças que procuram pelas mães que choram na travessia.
Bom Domingo.
A escuridão e a luz
Nos anos 80, a juventude também se preocupava com as mesmas coisas – moda, carros, baladas (tertúlias), e aqui na nossa provinciana Macapá, mais ilhados que nunca, não sacávamos nada do que estava acontecendo com a gente, ou seja, a maioria das mensagens musicais do rock 80, não entendíamos.
Letras como “Alvorada Voraz” e “Juvenília” (RPM) traziam na verdade uma carga de experiência e conhecimento de jovens músicos que tiveram a oportunidade de olhar um Brasil com os olhos de um mochileiro.
Quando me aproximei de Cazuza, percebi que o rock era muito mais que uma roupa e cabelos longos. O tal rock’n’roll se queixa da própria desinformação da juventude. E Cazuza escancarava, após a ditadura, a superficialidade do modismo da época, observando os garotos do morro, os meninos da Candelária, os moleques dos semáforos fazendo contraste com os barões e playboys da época – “Brasil mostra a tua cara; quero ver quem para pra gente ficar assim”.
Foi um percurso natural a saída de Cazuza, do Barão Vermelho, pois sua cultura já buscava, além do rock, a bossa nova, o samba e todos os frutos gostosos da MPB.
Tive a oportunidade de uma rápida convivência com Cazuza lá no Parque Lage, e saibam que da escuridão vem a luz mais divina.