Osmar Júnior

No tempo em que o amor andou pelas calçadas

Era uma vez quando ainda existia fim de tarde e todos se sentavam nas calçadas em cadeiras de embalo para conversar olhos nos olhos sobre o dia que passou.
Sonhos eram narrados para construírem algo para o amanhã, eram conversas puras e divertidas, quando os anjos passavam pelas calçadas todos davam “bom dia”, as moças sorriam, os rapazes tiravam o chapéu, e os velhos abençoavam.

Para cada casa uma arvore na frente e varias outras no quintal, não havia grades nas janelas, ladrões somente de corações, e o canto dos passarinhos eram ouvidos tanto quanto o sino da igreja chamando para um sermão de paz, sem gritos, sem milagres profissionais.

A natureza era o brinquedo das crianças que tinham os olhos ávidos de uma certa igualdade perante os quintais sem cerca. Peões, carro de lata e cantiga de roda para ensinar poesia. Tempo de chuva era tempo de chuva, tempo de sol era tempo amansado por sombra e rio em verões de sorrisos.

Uma amizade solidaria andava pelos corações, comprava-se a retalho, emprestava-se do vizinho, pois vizinhos eram familia, as relações de confiança iam do médico ao prefeito, do policial ao dono da taberna. O rio era limpo e os garotos tomavam banho em seu leito, enchentes eram lançantes de março que deixavam a flor dágua transparente, a água vivia em paz com a gente.

Uma rosa por um beijo, um desejo mais desejo, uma moça interessada em romance, uma nudez bem vestida, uma carta bem redigida, o amor caminhava pelas calçadas e pisava sobre as flores de jambo num caminho tão rosado.

Um tempo onde a tecnologia era mais contida, havia muito mais vida, e conforme os ventos de dezembro traziam o natal éramos visitados durante a noite por um bom velho de barbas brancas chamado de papai Noel, na verdade era meu pai, meu amigo e herói das noites de febre e dos dias de espera.

Agora lembro das fadas, e do bicho papão, da mãe do mato, e da mãe dágua, tudo tinha no fundo uma historinha de minha mãe para que eu sossegasse de tanto sonho.

Tempo em que o amor andou pelas calçadas.

Um pensamento sociopata

– Se eu tivesse meu próprio país, como alguns ditadores que eu admiro os tem.
Primeiro eu mandaria eliminar qualquer pessoa que ameaçasse minha liderança.
Eu tiraria do cardápio das escolas alimentos necessários ao crescimento físico e mental dos meus futuros escravos.
Nada de propaganda de idéias ou produtos de luxo, na mídia só a minha imagem.
Nomearia meus fieis sócios para cargos judiciais e financeiros.
Deixaria para fazer míseras melhoras urbanas quando eu precisasse que o povo se reunisse na praça pra ver minha solidão.
Mandaria fechar qualquer radio ou jornal que falasse mal do meu modo de governar.
Contrataria duas bichas para ficar repetindo no meu ouvido que sou poderoso e maravilhoso, e que rissem de minhas piadas sem graça.
Acabaria com os doentes nos hospitais, como? deixando-os morrer.
Diria sim aos pedintes e depois eu riria deles pelas costas, dizendo: que gente idiota.
Impediria que qualquer arte ou esporte fosse praticado, somente meus bobos da côrte pulariam o dia inteiro até que eu vomitasse de enjôo.
Teria um batalhão de gente ruim cumprindo minhas ordens, robóticos e risonhos seriam eles.
Mais chegaria ao final do dia diante do espelho eu diria: que fracasso cara, que fracasso, vou me lembrar de mim mesmo encolhido num canto quando os aviões bombardearem meu palácio cor de rosa. Onde está meu pipo?

Bom domingo!

É possível viver de música no Amapá?

É possível viver de música no Amapá? Não. Pelo menos foi o que eu ouvi da boca de vários artistas, nessa semana. O que me assustou foi o que ouvi daquele que seria o maior fomentador de projetos musicais do Amapá, meu parceiro e compadre Zé Miguel, músico sobrevivente de um movimento chamado Costa Norte.

Pois é, o Costa Norte sonhava galgar andares políticos suficientemente fortes para criar uma nova ideia musical que pudesse tornar realidade a cultura local. Acho que até conseguimos realizar muita coisa, misturando o marabaixo e o batuque com a música popular, tentando fazer de um político marqueteiro, um herói, tocando nossa música incessantemente autoral, no meio de uma carga de lixo musical despejada sobre nossas cabeças todos os dias através das rádios e de todos os veículos possíveis de divulgação de porcarias, inclusive a maior rede de televisão brasileira.

O Rambôlde Campos, também meu parceiro em obras musicais inesquecíveis, como “Os passa vida”, também confirmou em sua incessante busca por grandes empreendimentos que a música é uma grande ilusão. Confesso que ouvir isso de tais músicos me causou alguma depressão.

Pedi para uma amiga em Brasília que me falasse alguma coisa sobre os recursos existentes para essa música que eu faço, que seria a tal música de âmbito regional, ou seja, música popular brasileira com todas as suas influências. Ela me falou que eu sou apenas um de milhares dos milhares de cantores que vivem dessa música que significa algo em torno de 90% no Brasil.

Existem recursos que começam por lei nos estados e municípios, depois se expandem para o Ministério da Cultura que investe todos os anos muitos bilhões de reais nessa categoria, além de empresas como a Vale do Rio Doce, Petrobras, Banco do Brasil, Banco da Amazônia, etc., e ainda podemos contar com a sensibilidade de alguns políticos que podem fazer emendas para projetos musicais.

O mundo sempre caminha para essa música porque ela é o novo. Então fiquei observando ontem à noite um operário trabalhando até tarde. Como pode aquele homem sustentar quatro filhos e uma esposa com um salário mínimo? Decido então continuar vivendo das minhas ilusões.
Osmar Junior. Bom domingo.

Na intolerância, uma palavra

– O que há de novo na fé religiosa?

A oportunidade de mudar o rumo da história. Se somos imagem e semelhança de um Deus tão poderoso e tão misericordioso, por que aceitar a incapacidade humana de viver a paz?
Ora, se alguém me apresenta uma ideia de fim de mundo, por mais que seja inevitável, farei alguma coisa para mudar tudo. É o que faz Francisco. O homem se aproxima de mim e me pergunta se já aceitei Jesus, respondo que sim, sou católico, e ele diz com a maior autoridade, e cara de decepção, que eu estou enganado, isso acontece todas as semanas por pequenos evangelistas, talvez mal discipulados. Tudo bem, não é só desrespeito a mim como cidadão, e também com a Igreja de meus pais na qual fui batizado. O sinal de um tempo de intolerância religiosa e cultural embaixo da mesma fé, a cristã.

O papa Francisco viaja o mundo para tentar aproximar chefes de estados, porque sabe que não pode simplesmente aceitar o rumo das guerras sem fazer nada; sabe que precisamos deste planeta e seus recursos, sabe que na juventude e na família mora a esperança de um tempo melhor, sabe que as riquezas são mal distribuídas, dai a miséria da fome. Não há espaço para divisões, nem chaves, nem códigos, e nem compras de bens nesse dom, só ha preocupação com o destino da humanidade, a idade das trevas não pode voltar, e teremos que marcar um encontro entre a ciência e a religião para poder enxergar em Deus.

Sei que essas congregações mudam a vida das pessoas para melhor, trazem paz. Mas precisam trazer também uma boa relação entre as culturas para alcançarem seus objetivos em qualidade ou quantidade de fieis ou seguidores. O que importa é o que vai acontecer de bom entre os pensamentos baseados na harmonia dos povos que vivem nessa casa que Deus em sua forma gloriosa fez para todos nós, os seres vivos. E se alguém que ler isto perguntar quem eu sou para colocar meu pensamento aqui, respondo logo que sou um ser humano imperfeito, uma criatura de Deus que pensa e fala por si, e tem um sentimento diário por Cristo, um amor exercitado pela Igreja Católica. O papa Francisco escreveu em sua encíclica; Deus criou o jardim e o homem. Por que desprezar o que Deus criou? Então continuarei a cantar o nosso meio ambiente.
Bom domingo.

A ilha dos condenados

Conheço garotos geniais, com uma visão científica formada, e interesses inteligentes. Onde essas coisas feitas para cantar cabeças fúteis encontram resistência? São garotos mais conscientes, e não absorvem erros de uma geração já perdida.

Digamos que a cultura modele a alma da juventude, dando-lhe condições mentais para ter ideias geniais e humanismo. Que tudo o que é moderno seja usado para o crescimento do indivíduo e não para sua degradação. Então, pensando nisso, poderemos tornar a internet acessível a quem tenha condições de usá-la inteligentemente. O automóvel também não pode ser usado com irresponsabilidade, porque muitos adolescentes não têm condições de usar a rede social, pois se viciam e se isolam. Por que meninas têm sido expostas ao público fazendo sexo? Por que as tristezas dos pais podem ser irreversíveis ao ver filhos expostos? Como é que se pune um adolescente que invade uma casa e acaba com a vida de uma família, com a inútil política para menores?

A mente assassina é merecedora de condenação.

Então uma nova ordem se instala, pelo menos em Macapá. Esses crimes hediondos que vêm de menores devem ser punidos, para que não sejamos habitantes da ilha dos condenados. Eles, os menores, são assassinos ou infratores.

Bom domingo.

A luz, a poesia, o som, e o meu amor

A juventude agora tem mais acesso à informação que os velhos teóricos como eu. Alguns poetas são teóricos porque seu conhecimento é uma pluma ao vento, observam mais não absorvem, fantasiam o universo a seu modo, dizem coisas que podem mudar minutos depois, adoram paginar velhos livros de ciências para ver o antes e a afirmação do depois, são metamorfoses ambulantes, como esse mundo assim o é.

Agora temos smartphones para fazer qualquer pergunta; parece que o próprio universo dialoga com o espaço tempo para promover soluções simplesmente humanas. Drones, por exemplo, poderiam ter sido criados há muito tempo, mas só agora temos essa percepção, coisas dessa ordem universal, cada tempo em seu lugar.

Quando nos interessamos pela quântica na música, é uma triste realidade sabermos que o som não se propaga no vácuo, portanto não podemos cantar uma canção para Deus no espaço cósmico; não podemos orar em voz alta e nem dizer um poema para a mulher amada. No vácuo só podemos lançar mão de outras realidades, alguma sinestesia ou poder telepático, e ver notas e tocá-las pela imaginação como no filme O Pianista que mostrava um músico judeu escondido nos escombros da guerra, que não querendo ser descoberto pelos nazistas, tocava o piano sem apertar as teclas, mas a música se propagava na sua mente. É o que acontece na mente do músico criador. Sua mente pode ouvir e ver o som em cores vagando pelo espaço.

A expansão da luz no vácuo foi discutida por mim e meu filho, um dia desses. A luz é uma mistura de gases e eletromagnetismo que se propaga no espaço. Mas o smartphone dele me deixa encucado, às vezes, quando debatemos alguns assuntos. Então um amigo meu professor da universidade me disse esse tipo de discussão é legal, deixe que ele descubra que é a luz que se propaga no espaço, não o som. Essa descoberta é sadia e inesquecível para vocês.

A opinião de meu filho é importante em tudo que faço, pois ele representa toda a nova geração dentro de casa, e é um feedback para que eu saiba como dizer certas coisas, através da música, para a juventude. Sempre estou pronunciando as palavras cultura, ciência, Deus e sempre peço, veja aí tal coisa pra mim na internet. A gente não escapa mais dessa comodidade tecnológica, mas a juventude tem sua sabedoria e atitude próprias.

Alguns músicos começaram, como os cegos, a enxergar cores no som, e identificar notas através das cores. Venho me interessando por esse assunto há alguns anos, e sei que quanto mais barulho no planeta, mais insensível o homem fica a essa sinestesia. Sons automotivos absurdamente poderosos em festivais nos recantos ecológicos podem interferir na procriação dos animais, pois sua relação sexual depende muitas vezes do canto emitido nos fins de silenciosas tardes. O projeto secreto haarpe testa armas sônicas ao ponto de que o mundo já ouve as trombetas celestes do fim; sons estranhos vindos do céu têm sido escutados no mundo todo. Sou apenas um compositor e prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.
Dedicado a Zeca Noha

Na fonte de Nelson Rodrigues

Em um desses eventos gelados, ela passa, eu olho, ela vê meus olhos, e enxerga meu desejo através das lentes de seus óculos de grau. Eu sei, eu sei que ela me vê, ela não trai sua posição social nem sua riqueza advinda da família abastada e do casamento rico e cansado; ela nem percebe minha deselegância diante de um sistema politicamente embandeirado, que mais parece um pingpong de poder, eu e meu whisky solitário entre as gargalhadas sociais, e a ansiedade falante de oportunistas e puxa sacos assíduos entre políticos e homens de negócio. Eu penso, essa boca … será que alguém percebe que ela carrega um beijo? Intenso, molhado e febril … Continuo a olhá-la, e ela já sabe que eu a olho como mulher e não como executiva intocável. Eu quero a verdade sobre as suas verdades.

Vou ao camarim, aos toilletes, são menos usados, não planejei, mas o destino, meu parceiro inseparável, leva-me a esse encontro.

– Desculpe-me, ela diz, terminando de retocar a maquiagem, um olhar permissível e meu ataque fora de tempo, imprevisível, perigoso, podia não ter dado certo, mas deu e muito.

– É agora, eu digo, tem que ser agora.

– Você é louco, ela diz, mas seus óculos já estão desarrumados, e sua boca na minha, e já caminhamos agoniados até à porta e nos trancamos. Um silêncio louco se instala no ar, só música ofegante, suas mãos espalmadas na parede e eu quase “química” entre suas roupas íntimas tão leves; ela não precisa de quase nada com aquela beleza escondida. Seu cheiro e seu prazer são verdades. Agora eu estou dentro de sua alma, e me afogo em seu sexo, e sou rei de sua boca.

Essa noite vale mais do que qualquer encontro planejado, mais do que qualquer acaso, não vai virar um caso, vai ficar em mim como chuva e soprar como brisa no corpo dela pela manhã, quando ela pega o sol e um sorriso e vai trabalhar. Enquanto eu escrevo e bebo intelectualmente amanhecido na fonte de Nelson Rodrigues, mas nem tanto assim.
Bom domingo, Osmar Jr.

Rios do interior

Quanto ao grande rio Amazonas suportar entulhos e dejetos, é uma longa história de incompetência em gestão ambiental pública, há décadas. O esporte praticado nele é saudável e pode ajudar na educação ambiental. Já era previsto. A juventude cumpre sua parte, o kitesurf, a canoagem, lanchas, jets, etc… Esse rio ao conduzir grandes navios com certeza pode ser transitado por todo tipo de máquinas aquáticas. Tem até motocross na maré seca. Tudo bem, até aqui, penso eu. É um rio poderoso.

Mas o que acontece nos pequenos rios do interior do Amapá, onde o bioma é bem mais delicado, é no minimo uma exibição de pobreza de espírito, pois a riqueza, segundo a visão de alguns frequentadores de casas de veraneio às margens desses santuários, ainda são músicas de mau gosto em alto volume, e jet skis em alta velocidade que já levaram inclusive pessoas pra morte; lixo plástico e lanchas caríssimas só vistas em mãos milionárias. Uma visita da Sema e uma pesquisa da universidade federal fariam muito bem para ver qual o impacto ambiental dessas atividades.

A organização dessas lindas vilas pode trazer benefícios econômicos e turísticos importantes aos moradores dessas localidades.

O clima de interior é uma dádiva da natureza e pode servir para intenso descanso, mas a algazarra e o barulho parecem ser nossa principal cultura. Isso deve acontecer de Angra ao Marajó, mas nós não precisávamos copiar tal insensibilidade.

São rios que têm suas próprias canções, a música suave do Ariri, rio Flexal, Igarapé das Almas, Maruanum, Matapi… Isso, sim, é riqueza. Peixe, açaí, farinha, são modestamente vendidos pelos moradores ribeirinhos tão cristãos, de olhos puros e gentileza inigualável da qual tenho tanto orgulho em meu povo.

Se esse cuidado com o saneamento e a preservação do ambiente começar agora vamos desenvolver no futuro vilas com qualidade de vida formidável e condições sonoras aceitáveis, um cuidado com esses rios que precisam da sensatez do comportamento humano mediante a natureza.

No fim desses dias barulhentos, a algazarra se vai, e a natureza volta ao silêncio, e dá graças a Deus. Os homens foram embora, as máquinas silenciaram, ficando só o lixo. Então volta o canto do adormecer dos pássaros, o burburinho das águas, o rebujo dos peixes, o quiriri da mata. Tudo serena! Agora tudo é poema na paz do som da natureza.

Osmar Jr.
Bom domingo

Maria e José

Não perderás de vista a história, seja em pedra ou pergaminho, seja em ouro ou prata, lembrarás de quem a fez como quem lembra de parentes, ancestrais ou heróis. Tem que ter algo assim escrito em algum lugar nas montanhas. Maria e José não são deuses, são santificados, pois os católicos os tem como santos, e santo para os católicos é quem cometeu um ato corajoso de obediência, bravura ou amor perante Deus, mesmo que na marra, como aquele homem Ajudando Jesus a carregar sua cruz ou Jonas que pensava poder fugir de Deus, esses personagens são lembrados e festejados pois o povo gosta mesmo é de festa e feriado. Tradições católicas, como imagens de santo, datas festivas, procissões que vieram com os portugueses, acabam confundindo alguns que se apegam mesmo é a imagem. Mas tudo isso é o poder da cultura e da fé – não deve ser levado a mal.

No Pentateuco judaico, a Bíblia diz para que não adoremos os ídolos de ouro ou prata, com um pouco de conhecimento sabemos que se referem aos ídolos egípicios, pois havia a escravidão de Israel que era um povo subjugado por faraó que, aliás, não é só religião é uma raça, é sangue. Alguns evangélicos pensam ser judeus, eu nunca serei um levita, não sou da casa de Levi. A meu ver trazemos a mulher (a deusa) dentro de nós porque desapareceram com elas da história, e parece que a Igreja se prepara, através de Maria, para revelar que a mulher é mais importante do que se imagina na Historia do Cristianismo. Continuamos com esse preconceito. Essas imagens não concorrem com Jesus, são representações de gente humilde ligadas a ele. Maria e José simbolizam um povo perseguido por Herodes, o político matador de criancinhas, e claro que são apenas símbolos culturais da igreja, acabam sendo cultuados. Dê ao povo uma centelha de fé e ele transformará em uma gigantesca fogueira.

E se a Igreja tivesse modificado e escondido boa parte da História de Jesus? Os apócrifos, abalaria nossa fé? Não, claro que não. A fé e como um órgão humano,  um órgão vitalício, e não se abala nem com a morte. Jesus sempre será seguido porque é um rabi suave, leve, amoroso e veio aos pecadores. É a mais linda História de Deus. Sua profecia foi cumprida e pronto.

A fé vem direto com a gente do cosmos vivo, que não respira, não tem carne, não tem voz humana, mas existe perenemente, pra nosso eterno desentender. Como diz o padre Aldenor, não tente com sua mente limitada entender Deus, só acredite, tenha fé, faz bem, fale com ele.

As imagens dos santos católicos não concorrem com sacerdotes, com rabinos, pastores ou pai de santo. Chutar uma imagem é pecado, você pode estar chutando uma obra de Aleijadinho, é arte. É evidente que temos uma cultura religiosa portuguesa formatada; todas as cidades brasileiras, principalmente na Amazônia, festejam personagens bíblicos, e nossos nomes também são cristãos,. são Josés, Marias, Tiagos, agora com os evangélicos também temos  Obedes, Miqueias, Zacarias, Saras…Acredite, cultura é algo forte –  a religião é cultura.

Um amigo meu estudioso do assunto falou que se o fanatismo religioso virar droga na cabeça do povo, haverá o dia de caça às bruxas e muita gente vai morrer queimada, pois a história se repete. Católicos de ontem, radicais de hoje. Mas temos uma harmonia religiosa melhor que a política. Só não vale radicalizar. Vivamos em paz.

Quer saber? Quando converso com um pescador, carpinteiro, barqueiro, qualquer operário, entendo porque Jesus se chegou a eles, é pelo fato de que eles aprendem e ensinam a vida da forma mais simples que existe, trabalhando. Essa é a maior religião, o trabalho. Quer crescer? Dê bom dia ao pastor e vá trabalhar, pare de gastar com farra, ponha suas ideias em prática, e depois mande algum pra ele em nome de Deus.

Então Marias e Josés de Macapá, e do mundo inteiro…parabéns, parabéns por uns nomes tão belos, de uma mulher e um homem que assumiram a guarda daquele que nunca vimos em corpo, não sabemos como era, mas até hoje sua história permanece em toda a humanidade, pois ele não pertence a nenhuma empresa ou Igreja, ele pertence a quem acredita nele. E mesmo sem saber escrever, escreveu sua história pelas mãos de Deus e seus anjos, pois ficaram nas pedras e nos pergaminhos, e seu pai e sua mãe se chamavam Maria e José. Está escrito.

Músicos, faróis na escuridão

A quem possa interessar.

Nunca deguste o artista, sim, a sua obra. Beijá-lo é perigoso, mas roçar sua língua na dele é saudável.

Eu diria a uma criança que música é paixão. Encha seu coração de música e estará cheio de amor. Cuide-se das curiosidades quanto às viagens dos vícios que nos rondam, pois nos degradam na volta. O artista é apenas uma fantasia, mas a arte é uma verdade que pode ajudar a mudar o mundo, porque se muda o mundo, mudando pensamentos.

Musica é uma filosofia, mas também é ganha pão. Temos ministérios, secretarias e fundações; temos público, e público é dinheiro; temos mecenas, pessoas de posses que gostam de música e nos financiam, isso desde a Idade Média, como os Borgeas e os Médicis; temos orquestras, musicais, bandas, templos, ordem, editoras, e um monte de espaço.

É uma questão de conquista, entende, conquistar pessoas. É uma boa profissão. Lembre-se que nem todos os músicos correm atrás de notoriedade. Isso pode acontecer ou não, mas legal, mesmo, é ser qualquer coisa por paixão. Talento musical autêntico raramente se aposenta. Muitas pessoas te subjugarão, mas do meio dessa escuridão surgirá uma luz e te iluminará. Perdoe nossos pecados, e olhai dentro dos nossos corações: somos paz, poetas e amigos dos anjos, pois falamos a lingua deles; herdeiros do dom de Jubal, que vem de Noé, que é filho de Adão, que foi criado por Deus. Somos imperfeitos.

De Jim Morisson a Jimi Hendrix, de Ray Charles a Elvis, de Kurt Cobain a Michael Jackson, de Raul Seixas a Elis Regina, de Cazuza a Renato Russo, de Tim Maia a Kassia Helen, de Chorão a Champion. Todos faróis na escuridão, Anjos loucos, mas cheios de ternura.

Agora enxugue minhas lágrimas e ouça minha canção, pois na banda escura e na banda clara da terra os anjos tocam nos túneis, estações, prostíbulos, igrejas, teatros, praças… eles tocam pra quem quiser ouvir. Suas gotinhas musicais por menor que sejam molham o mundo com amor. Afinal, o que é um oceano senão milhões de gotinhas reunidas.

 

Bom domingo.