Diário Política

Barroso critica projetos que mexem no STF e diz que julgamento sobre maconha busca ‘enfrentar política de drogas desastrosa’

Presidente do STF deu declarações durante seminário em SP. Para ele, alterações no funcionamento de supremas cortes ‘não têm bons antecedentes democráticos’.


 

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, criticou nesta segunda-feira (13) propostas que têm o objetivo de alterar o funcionamento interno da Corte.

 

O magistrado também afirmou que o julgamento que pode liberar o porte de maconha para uso pessoal é necessário para se “enfrentar a política de drogas desastrosa” Brasil.

 

Barroso deu as declarações em São Paulo, durante um seminário organizado para se debater o “papel do Supremo nas democracias”.

Mexer no STF não é prioridade do Brasil, diz Barroso

 

Durante pronunciamento, o presidente do STF afirmou que mudar regras da Corte não é uma prioridade no contexto brasileiro e que alterações no funcionamento de supremas cortes não têm “bons antecedentes democráticos”.

 

A fala ocorreu durante uma avaliação de Barroso a respeito de mudanças ocorridas no Judiciário da Hungria e da Rússia.

 

As declarações vão de encontro a uma ofensiva promovida por setores do Congresso favoráveis a mudanças na estrutura e no funcionamento da Corte.

 

Duas Propostas de Emenda à Constituição (PECs) que tratam desse tema têm sido debatidas de forma célere nos últimos meses no Senado, com o apoio majoritário de lideranças da oposição na Casa.

 

Um dos textos já foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e está pronto para ser votado em plenário. A proposta, em linhas gerais, restringe decisões individuais na Corte. Outra PEC fixa um prazo para mandatos de ministros do Supremo.

 

O desejo por mudanças na Corte fez deputados de oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desmobilizarem um movimento de obstrução na Câmara após sinalização do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de que há disposição para discutir e votar, até o fim deste ano, pautas da ofensiva contra o Supremo.

 

Além das propostas em discussão no Senado, a Câmara também discute uma PEC, apresentada com apoio da oposição, que autoriza o Congresso Nacional a derrubar, por maioria qualificada, decisões do STF que extrapolem os limites constitucionais.

 

Para Barroso, o histórico estrangeiro contra Supremas Cortes aponta que as próprias Cortes “não são capazes de proteger isoladamente a democracia”. “Elas precisam do apoio da sociedade civil, da imprensa, da classe política”, afirmou.

 

O ministro também avaliou que, nos 35 anos da Constituição Federal de 1988, o STF cumpriu o seu papel como guardião do texto. Segundo ele, críticas à atuação da Corte estão no “varejo político”.

 

“A democracia e, sobretudo, a Constituição, ao longo desses 35 anos, têm resistido a tempestades diversas, que foram dos escândalos de corrupção às ameaças mais recentes de golpe. A Constituição e a democracia conseguiram resistir? A resposta é afirmativa. Quem é o guardião da Constituição? É o Supremo Tribunal Federal. Então, é sinal de que ele tem cumprido seu papel e o resto é varejo político”, disse.

 

Na avaliação do ministro, as propostas para mexer nas regras do STF são fruto de uma percepção de segmentos da sociedade que enxergam o Supremo como um “problema” e uma espécie de obstáculo para a governabilidade.

 

“Criou-se, em muitos segmentos da sociedade, a percepção de que o Supremo era um problema, de que o Supremo dificultava a governabilidade. E esses membros da sociedade, que pensam assim, elegeram representantes, e esses representantes — inclusive, sobretudo, no Senado — procuram expressar o sentimento do seu eleitorado colocando o Supremo na linha de crítica”, afirmou.

 

Barroso disse, no entanto, enxergar com “naturalidade” o debate no Congresso e que acredita que “tudo pode ser discutido à luz do dia”.

 

“O que eu tenho procurado fazer é conversar com a sociedade para demonstrar que isso não aconteceu e que essa é uma demanda desnecessária — quando não injusta. Mas eu entendo perfeitamente o processo histórico que está acontecendo de nós desfazermos uma percepção equivocada”, declarou.

 

 


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