Nota 10

Padre Álvaro da Paixão morre aos 80 anos após imensa dedicação ao sacerdócio e à educação

Religioso, de origem indígena, em 1981 foi ordenado padre pelo então bispo de Macapá, Dom José Maritano, na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, no bairro do Trem, zona sul de Macapá


 

Douglas Lima
Editor

 

Às 9h desta segunda-feira, 28, acontece a Missa de Corpo Presente em homenagem póstuma ao Padre Álvaro Nonato da Paixão, falecido domingo, dia 28, acometido de câncer de próstata. O velório ocorre no Salão Paroquial do Santuário de Nossa Senhora Fátima.

 

Padre Álvaro morreu aos 80 anos de idade, depois de 44 anos de sacerdote e 34 de professor da rede pública. A Missa de Corpo Presente será rezada pelo bispo diocesano de Macapá, Dom Antônio de Assis Ribeiro.

 

Em 1981, o religioso foi ordenado sacerdote pelo então bispo de Macapá, Dom José Maritano, na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, no bairro do Trem, em Macapá. Ele nasceu no município de Amapá. Tinha descendência indígena.

 

Padre Álvaro da Paixão dedicou-se à Diocese de Macapá, onde deixou um legado de amor aos mais pobres. Popular, o religioso era torcedor ferrenho do Ypiranga Clube e amava a Associação Padre Vitório Galiane, onde o time negro-anil foi formado.

 

Acompanhe a emocionante homenagem que Padre Paulo faz ao colega de sacerdócio, Padre Álvaro:

“Padre Álvaro Nonato da Paixão nasceu no dia 18 de fevereiro de 1945 na cidade de Amapá, Estado do Amapá. Filho de Manoel Simplício da Paixão e Cemirames Nonato da Paixão. Foi ordenado Padre pela imposição das mãos de Dom José Maritano no dia 11 de julho de 1981. Criado nas fazendas de gado, no meio da fartura e da natureza, cedo seus pais vieram morar em Macapá, para que os filhos pudessem estudar.
Vieram morar próximo da praça Floriano Peixoto, então bairro do Trem. O jovem adolescente logo se envolveu nas atividades da Igreja Nossa Senhora da Conceição, participando ativamente dos oratórios, catequese, juventude oratoriana e outras atividades paroquiais. Fez amizade com os Padres do Pime como Vitório Galiane, Antônio Cocco e Luiz de David. Contribuiu com o Mestre Dário, Biroba e outras personalidades do bairro do Trem na edificação dos valores cristãos e cívico da garotada do Trem.
A convite de Dom José Maritano entra para o seminário diocesano e viaja para São Paulo, mais precisamente a Campinas, para cursar Filosofia e Teologia. Ao retornar para Macapá é ordenado e ingressa na carreira de professor de primeiro e segundo graus. Leciona no Ginásio Feminino de Macapá e Colégio Jesus de Nazaré entre outros. Trabalhou como Padre em Santana, Serra do Navio, Oiapoque, Amapá, e Porto Grande.
Em Macapá trabalhou na Igreja São José, São Benedito, Jesus de Nazaré e Nossa Senhora da Conceição. Padre Álvaro há oito anos vinha lutando contra um câncer. E hoje na Festa da Divina Misericórdia retorna à Casa Paterna. Foi devoto de Nossa Senhora do Carmo e amava o trabalho pastoral no interior do estado.
Deixa um legado de amor à educação, ao desporto, ao Amapá e aos pobres. Padre Álvaro há vários dias vinha agonizando e já rezamos para que ele pudesse descansar. Perguntávamo-nos o que faltava para ele se desligar da matéria. Hoje tivemos a resposta: ele espera o Domingo da Divina Misericórdia, um dia tão cheio de significado para nós, sacerdotes. Somos todos filhos da Misericórdia. Mesmo pecadores e frágeis o Senhor da Messe nos chamou para o seu rebanho e nos enviou. Que dia tão belo! Que dia tão cheio de simbologia e ternura para o nosso amigo Padre Álvaro Nonato da Paixão fazer a sua eterna Páscoa.
Ainda hoje celebrando a Santa Eucaristia ardentemente o carregava no meu coração. Tive o privilégio de tê-lo comigo oito meses aqui em casa, no Ijoma. Partilhamos dores, sonhos, desabafos, decepções, conquistas e perdão. Rimos, choramos e pedimos perdão um para o outro.
Choramos juntos quando da morte do Padre Aldenor Benjamim e do Padre Francivaldo Lima. Hoje vou dormir um pouco mais solitário e mais pobre. Fico agradecido e feliz por ter convivido, amado e fui amado por um amigo fiel e sincero. Agradeço sua fidelidade, perseverança, testemunho na dor e na alegria de servir.
Choro hoje não só por perder um colega Padre, mas por perder um ser humano que esteve comigo em todos os momentos da minha vida sacerdotal, principalmente na hora que perdi meus pais, meus irmãos e quando por nada ele chegava em casa só para dizer que estava com saudade de mim e por saber que só aqui ele podia comer um tamuatá, uma traíra, um acará ou um litro de açaí.
Comigo ele aprendeu a saborear uma sardinha frita com ovos de galinha, tomando um cafezinho que só eu sabia fazer. Meu preto leva a minha saudade ao Padre Aldenor, Francivaldo e a todos os Padres que passaram pela nossa querida Igreja do Amapá. Te amo Padre Álvaro Nonato da Paixão.
Perdão por não me fazer mais presente na tua vida. A última visita no Hospital eu fiquei trinta minutos e quando eu já ia saindo o senhor abriu os olhos e me disse: Padre Paulo não vá embora, fica mais um pouquinho.”

(Paulo Roberto da Conceição de Souza – Padre Diocesano)

 


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